Rafael zero

Cismas de uma voz

 

Ó vós, minha voz, que sois tão contida,

Não vos irriteis de minhas covardias,

Se hoje vos venço, passam-se os dias,

Se amanhã vos venço, passam mais ainda!

 

Passados os anos, finda-se a vida,

E este corpo, que vos fazia tiranias,

Não há de vos causar mais agonias,

Nem vos há de fazer despedida!

 

Ó vós, minha voz, atentai-vos à verdade

E não crieis, deste corpo, tal ojeriza,

Porque vos será raiva na eternidade!

 

Enquanto os olhos do corpo se esvaziam

E os abutres, da fome, se saciam

A voz da alma se liberta e se eterniza!