Ó vós, minha voz, que sois tão contida,
Não vos irriteis de minhas covardias,
Se hoje vos venço, passam-se os dias,
Se amanhã vos venço, passam mais ainda!
Passados os anos, finda-se a vida,
E este corpo, que vos fazia tiranias,
Não há de vos causar mais agonias,
Nem vos há de fazer despedida!
Ó vós, minha voz, atentai-vos à verdade
E não crieis, deste corpo, tal ojeriza,
Porque vos será raiva na eternidade!
Enquanto os olhos do corpo se esvaziam
E os abutres, da fome, se saciam
A voz da alma se liberta e se eterniza!