O MONSTRO E O MÉDICO.
Sempre digo que Adamastor era um cara simples, às vezes até simplório; tinha a mania de acreditar nas pessoas, na ciência e até no amor.
Pois bem, vai daí que naquela tarde de sexta-feira, véspera de Natal, Adamastor estava a ler algumas coisas que diziam respeito a profecias e destino da humanidade.
A leitura dava conta de que o célebre astrólogo francês, Nostradamus, havia predito com precisão suíça a subida de Hitler ao poder e o genocídio proporcionado pelo degenerado psicopata alemão e, entre outras, a segunda guerra mundial e a criação da bomba atômica que arrasara as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima.
Lembrou-se de haver lido, recentemente, que a famosa profetisa da Bulgária, Baba Vanga, havia deixado antes de morrer, em 1996, uma série de previsões para o ano de 2022, entre elas uma nova pandemia que começaria na Sibéria, a devastação total da Ásia e da Austrália, por uma Tsunami, crise hídrica, terremoto nunca visto e, até uma invasão alienígena, através de um asteroide que se chocaria contra o planeta.
Adamastor, chegado a obras de ficção cientifica, as quais, na verdade, tinham se tornado reais através dos tempos, máxime as de Júlio Verne, grande escritor francês conhecido por sua “Da Terra à Lua”, Vinte Mil Léguas Submarinas, e Viagem ao Centro da Terra “entre outras, estava meio que absorvido por lembranças daqueles romances, e se propôs a ler novamente aquelas obras.
Foi interrompido em seu passa tempo com a informação de que havia recebido um presente que acabara de chegar por Sedex e se encontrava na portaria do prédio. Era um belíssimo exemplar de “O Médico e o Monstro” do escritor inglês Robert Stevenson. A história conta que o médico, Dr. Jekill, querendo provar sua teoria de que em todas as pessoas existe um lado macabro, maquiavélico e irracional inventou uma fórmula química que possibilitava a aparição dessa personalidade escondida no ser humano.
Como não encontrara nenhum voluntário para sorver o produto acabou por ingeri-lo acreditando que pudesse ter o controle dessa nova personalidade que surgiria. Só que não teve este controle e criou o monstro que nenhuma empatia tinha pela humanidade. A criatura era totalmente desgovernada e sem freios. Na surdina da noite ela saia às ruas de Londres e cometia toda sorte de barbaridades e atrocidades.
Adamastor, então, ficou pensativo a imaginar se isto poderia vir a ocorrer e se o escritor britânico não tivesse, em meados do século XIX, tido uma visão futura do ano de dois mil e vinte e um, como Nostradamus e Baba Vanga.
Assustou-se, de repente. Quase incrédulo, decepcionado e horrorizado viu que tal fato, na verdade, estava ocorrendo em pleno século XXI.
Mas, ocorria o contrário do romance, aqui. Não fora o médico que criara o monstro, mas o monstro criara o médico. Só que, também ao contrário, o monstro, embora nada entendesse de medicina, controlava facilmente o médico que, alienado, pregava, como seu monstro mandava, a discórdia, a falta de empatia com seu povo que comia ossos para não morrer de fome, e até mesmo com as crianças, as quais, negava os mais comezinhos princípios de saúde. Diziam até que isso era natural, pois todos deveriam morrer um dia. Em suma, para eles a vida humana era “só um detalhe”, como já dissera uma maluca psicopata há anos atrás.
Pior que não agiam nas sombras da noite. Agiam abertamente contra tudo e contra todos que não idealizassem a derrocada de seu país. Sua empáfia e arrogância, sua estupidez e desapego com as mais simples regras de educação, de respeito a profissionais, a mulheres principalmente, e a sua fobia para disseminar o ódio contra quem ousasse dizer sua opção, fosse ela política ou sexual em contrário à sua, caracterizam os dois chauvinistas.
Adamastor quase desanimara da vida. Entretanto, em sua simplicidade e credulidade nos homens de bem, aguardaria um novo momento já que acreditava, também, que “não há bem que dure sempre e mal que não se acabe”. Sempre depende do ser humano mudar as coisas e mudar a si mesmo.
Nelson de Medeiros
25/12/2021