Marcelo Veloso

ENTRADAS

Eu entro na conversa,

mas, me calo,

acho que isso não ajuda,

só desconcerta.

Quantas vezes me seguro,

às vezes falo,

penso que nada muda,

só desperta.

 

Eu entro no assunto,

mas, me contenho,

imagino que isso é fuga,

distanciamento.

Por várias vezes me disponho,

outras vezes desdenho,

sei que isso me suga,

só ressentimento.

 

Eu entro no contexto,

mas, me resguardo,

sabendo que isso é presença,

é consciência.

Em todas as vezes me fortaleço,

não sinto como fardo,

porque isso me compensa,

só resiliência.

 

Eu entro no debate,

mas, me preparo,

pois sei que isso me consome,

e envolve.

Tantas vezes me senti tímido,

às vezes, carrancudo,

sei que isso, além do nome,

só promove.

 

Eu entro no diálogo,

mas, me reservo,

sei que isso se faz preciso,

e necessário.

E por inúmeras vezes,

me perco nas palavras,

sabendo não ser indeciso,

só corolário.

 

Eu entro na discussão,

mas, me imponho,

pois sei que isso é devido,

importante.

Já que algumas vezes,

me perdi na contestação,

e deixei de ser decidido,

só falante.

 

Eu entro na comunicação,

mas, me abasteço,

pois isso me é favorável,

essencial.

Pois tantas vezes me conformei,

e em outras entristeci,

porque fui frágil e inafável,

só casual.

 

Eu entro na arte,

mas, me acerto,

porque isso é prazeroso,

dá alegria.

Todas as vezes acabo escrevendo,

ou apenas rabisco,

tenho o saborear generoso,

só poesia.

 

Eu entro no mundo,

mas, me encontro,

porque a verdade é pura,

e valida.

Assim, todas as vezes sou eu,

não me entrego,

sei bem quão vale a criatura:

só vida.