Deise Zandoná Flores

Tangente

 
Quase é um quase sem, no entanto,
ser um meio ou uma metade: exiguidade.
É um próximo: não alcançou o seu destino.
Partiu do zero, caiu no vazio. É frio e queima.
Corta como mil facas, mil noites macias
perdidas para os vultos e sussurros:
 
um fantasma ronda às três da madrugada;
um veneno aplicado sobre os lábios;
um adeus retido na garganta ou menos;
um abraço que não chegou, um afogamento;
um morto, ou antes, um moribundo em agonia
– se pelas dores do corpo ou tormentos, quem saberia?
 
É um antes da chuva, tangencia,
não molha, nem aquece: entristece;
nem beleza, nem fealdade: mediocridade.
 
Quase...
é um vinho aberto e nunca sorvido;
é uma sede, que água alguma sacia;
é uma possessão, escape de energia;
é um sequestro, uma palavra fugidia;
 
é o eco do que poderia ter sido um homem;
é uma fome que nenhum nome supre; é nuvem;
 
é o espetáculo do abismo e dos seres engolidos;
é o redemoinho assassino, pelo enfado,
tornado protagonista de um fado não-vivido.
 
Este poema integra o livro: 
A PROGÊNIE DA NOITE
(171 poemas em 262 páginas)
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