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Marcelo Veloso

APOROFOBIA

O que expressam esses olhos vidrados,

é ojeriza, nojo, desatenção,

seja nos recortes das falas e do comportamento

seja na desdita desejada pela presunção.

 

Um oferecimento de reprovação,

misturado com conduta irracional,

sistematizada pela falta de apreço,

que numa violência xucra e banal,

presta um desserviço com claro endereço.

 

E no topo da sua possessão,

rodeado por abutres mercenários,

coloca toda sua malvadeza,

num boçal e ridículo itinerário.

 

Tirando toda oportunidade de sobrevida,

urde pela supressão do mínimo existencial,

numa aversão evidenciada pela ganância,

tudo pela privação ao convívio social,

replicada pela singular ignorância.

 

É assim, a moldura que se revela,

no gesto do dejeto apoderado,

que, a todo instante, surpreende,

exalando fel e veneno misturado.

 

E com uma sutileza visceral,

bitolado por uma malversada concepção,

rejubila em seu momento nobre,

destilando toda raiva e obtusão,

para com o carente, desassistido, pobre.

 

Mas, o silêncio não é dos inocentes,

pois esses não tem força para expressar,

a mudez e a covardia são dos canalhas,

que mundanizam o idolatrar.

 

Mesmo diante de toda fragilidade vivificada,

ainda se ouve brados de insensatez,

significada pela postura cínica e cética,

de um comungar cru de mesquinhez,

de quem não tem moral, respeito e ética.

 

O descaso não está só no bolso,

está na face escancarada de uma aversa sociedade,

e o veredito é reflexivo e instigante:

ser humano não é sê-lo com desigualdade.