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Rafael Marinho

#5 - Vamos unir nossos tédios e solidões

Querido amigo,

Eu queria acreditar que exibiram sem querer um filme de terror no lugar do Jornal Nacional.

Só que isso não é verdade.

 

O coração se desmancha só de ver de uma multidão inumerável dizer adeus assim.

 

Nós estamos fazendo tudo no alcance das nossas mãos.

Ainda assim, o controle escapou delas.

 

Resta então a consciência de que devemos amar como se não houvesse amanhã. 

De que cuidar do outro é cuidar de si.

E que, embora isolados, nossos sentimentos são compartilhados por muitos corações ao mesmo tempo.

 

Por isso, precisamos nos conectar com quem podemos compartilhar energia.

E, tudo bem, quando estivermos carregados, vamos carregar a quem o corona atingiu os pés.

Vamos unir nossos tédios e solidões.

Transformar em alívio, em força, em coragem pra seguir em frente.

 

E também é preciso desafogar.

Um alívio cômico, sabe.

Como naquela época longínqua de dois mil e dezenove. 

Não pra negar o que está havendo, mas pra não enlouquecer.

 

Agora eu entendo porque colocar filme de criança pra gente ver.

Agora eu entendo porque reexibir as glórias da Seleção Brasileira.

Agora eu entendo porque o festival de memes.

Isso existe para que não percamos a capacidade de rir.

Mesmo que seja de nervoso.

 

Precisamos continuar para que as pessoas ainda fortes possam cuidar de quem já se esforçou além da conta. 

 

Como diz uma frase que vi esses dias, somos agora como um ônibus fora do horário de pico.

Às vezes ele está sem ninguém.

Mas continua andando na esperança de encontrar algo ou alguém que lhe preencha.

 

Precisamos continuar seguindo em frente. 

Mesmo com um vazio no peito.

  

Com amor,

Um amigo