Arlindo Nogueira

HETERÔNIMO DO POETA

Sou poeta e artesão do poema

Escrevo na linguagem poética

Minha sensibilidade é dialética     

Da presentificação que advém

O contexto de particularidades

São reflexos da subjetividade

Vira do avesso a alma que tem

 

Tu que “palmilhasse vagamente”

“A estrada pedregosa de Minas”

Encontraste por lá belas meninas

E Carlos Drummond de Andrade

“Vou-me embora pra pasárgada”

Lá tem “Joana espanhola” amada

Manoel Bandeira está na cidade

 

“Turva mão soco contra o muro”

Sorria “entre os cheiros de flor”       

“Poema sujo” Gullar é seu autor

“Seja infinito enquanto dure” mais

“De tudo, ao meu amor serei atento”

“Dele se encante meu pensamento”.

“Felicidade” de Vinícius de Morais

 

“Ser mulher, vir à luz, alma talhada”

“Ser mulher de todo o infinito curto”

“Larga expansão do desejado surto”

“Ser mulher” ser Gilka Machado

“Eu canto porque o instante existe”

“Sou poeta: não sou alegre nem triste”

Cecília Meireles, “motivo” e recado.

 

Eu me sinto heterônimo do poeta

No eco do verso ao ensombrecer

Palavras poéticas que são meu ser

Poemas tácitos que a alma inquieta

Como o evolar de perfumes da flor

Revoam palavras ditas com amor

Poesias que adornam o ser poeta.