Era quase todos os dias
Na minha calçada eu via
Um menino altivo passar
Passos lentos, mas atento
Nos sapatos do passante
Alerta e sempre falante
Engraxa! Seu... engraxa!
Quando a voz silenciava
Há na calçada um fuzuê
Um ritmo do tipo samba
Eram sapatos lustrados
Batendo o pano no bico
Qual asas de tico-ticos
Nada na vida lhe zanga.
Logo um sapato brilhando
Nos pés do homem galante
Vai palmilhar seu destino
Na rua segue àquela voz
Ecoando pra lá e pra cá
Engraxa! Seu... engraxa!
Passa de novo o menino
Por ali ninguém faz conta
Desta criança engraxando
Que na dor não chora canta
Como moleque é tratado
Por todos em toda a parte
È só um menino engraxate
Que tem uma alma santa
Carrega nas costas a caixa
Com mãos sujas de graxa
Levando tudo o que é seu
Uma escova, pano e pasta
A voz ecoa pra lá e pra cá
Engraxa! Seu... engraxa!
Àquele menino era eu