Arlindo Nogueira

O MENINO ENGRAXATE

Era quase todos os dias

Na minha calçada eu via

Um menino altivo passar

Passos lentos, mas atento

Nos sapatos do passante

Alerta e sempre falante

Engraxa! Seu... engraxa!

 

Quando a voz silenciava

Há na calçada um fuzuê

Um ritmo do tipo samba

Eram sapatos lustrados

Batendo o pano no bico

Qual asas de tico-ticos

Nada na vida lhe zanga.

 

Logo um sapato brilhando

Nos pés do homem galante

Vai palmilhar seu destino

Na rua segue àquela voz

Ecoando pra lá e pra cá

Engraxa! Seu... engraxa!

Passa de novo o menino

 

Por ali ninguém faz conta

Desta criança engraxando

Que na dor não chora canta

Como moleque é tratado

Por todos em toda a parte

È só um menino engraxate

Que tem uma alma santa

 

Carrega nas costas a caixa

Com mãos sujas de graxa

Levando tudo o que é seu

Uma escova, pano e pasta

A voz ecoa pra lá e pra cá

Engraxa! Seu... engraxa!

Àquele menino era eu