Thamiris Zanin

O DIA EM QUE SENTI O CALOR DA NEVE.

Não era um dia qualquer, tudo indicava que seria o último. A presença úmida da incerteza, a escuridão vista de dentro da pequena caixa bagunçada e a falta de móveis que nunca chegariam na casa que nem telhado havia.

Sem dúvida não era um dia qualquer.

Para aquela flor que só conhecia a estiagem, logo ao olhar pela janela, com o seu estreito vaso quebrado, prestes a transbordar a terra seca que havia ali, na certeza do seu último suspiro, do sentir suas raras e breves palpitações, avistou em meio a uma vaga escuridão o que seria a junção perfeita de cristais, a plenitude e pureza do único clarão que existia ali.

Poucos sabem o quanto a preciosa Neve pode ser quente, mesmo na mais intensa nevasca.

É estranho pensar que uma flor necessitou estar em temperatura suficientemente baixa para enfim ser aquecida pelo mais forte vapor cristalizado.

Precisou abrir a janela e pegar o mais belo Graupel para novamente sentir a existência do sentido da vida.

É claro que, em locais íngremes pode ocorrer grandes avalanches e pequenos deslizes podem se tornar grandes tombos, mas para a pequena flor, isso se tratava dos detalhes do que era o amor.

Sua terra jamais secaria, a umidade finalmente se tornou algo bom.

Na escuridão, era impossível não notar o mais preciso evento artístico que era a junção do preto com o branco.

A pequena caixa bagunçada, finalmente ficou organizada e pode sentir da sua casa sem teto a intensa e maravilhosa chuva de flocos de Neve.