A vida já não me cabe,
Só me cabe o que é absoluto,
Absoluto como o silêncio,
Absoluto como a certeza de que escreverei mais uma carta,
Absoluto como a morte.
O mundo já não me cabe,
Se choro,
Trago dilúvio,
Noite de chuva,
E poesia,
Se rio,
Trago música,
Derramo o sol nos domingos,
E ainda levo comigo o ar de felicidade.
O amor já não me cabe,
Pois nasceu da poesia,
E a poesia é eterna,
Infinita,
Bela,
Como o céu e seu cemitério de luz….
O amor não me cabe pois ultrapassa o destino,
O corpo,
O desejo,
A vida,
E eu,
Eu nasci para morrer por amor,
Em pleno e puro desejo de amar.
O que me cabe mesmo,
É uma carta absoluta,
Pois na presença de uma prece não ouvida,
Inventa um deus,
Na ausência de um amor,
Faz a saudade fugir…
O que me cabe mesmo,
É a cor de uma carta absoluta,
Pois a tinta que escreve os versos de uma carta absoluta,
É uma lágrima da morte,
E a morte não só escreve cartas,
A morte transcende.