Na vida, as decepções
Se juntam às tantas que eu já tinha,
Das quais as relações
De dor não se abstraem!...
E ainda vivas as emoções
Me traem:
Tantos amargos travos recebidos!
Alguns amigos que eu pensei que tinha.
Mostraram a farsa da crença minha.
Quando eu nadava em ouro,
E tinha a mesa farta,
E a casa cheia e o meu tesouro
Que aos olhos
Dos ambiciosos reluzia,
E me fazia
Acreditar em falsos festejos,
Não via que era o beijo
De Judas que recebia.
Bateu-me no lombo
Cruel, terrível e feio,
A roda do tempo,
E no momento
Do meu horrendo tombo,
Vi a verdade nua e crua:
Na desdita, a máscara caiu
Dos falsos amigos:
A camaradagem logo ruiu.
Nenhum da roda de bajuladores veio
Emprestar-me o ombro amigo!
Da névoa do tormento
Que me acometia,
Vi à minha frente surgir
Alguém que eu
Tanto maltratava e ignorava
Como amigo.
No entanto, alento
A esse sofrido peito, deu...
E disse a sorrir ,
Me consolando em meio
Ao choro que eu vertia:
-- Vem, te empresto o ombro, amigo!