Marcelo Veloso

RÉ’CHEIO

Enche o copo, faz a medida,

veja como está o topo atual da sua vida.

 

Enche a panela, poe o azeite,

veja bem nela como fica seu deleite.

 

Enche a barriga, não mede a comida,

veja como é a briga maior da sua lida.

 

Enche a cara, esvazia a garrafa,

veja que a tara tornou sua marafa.

 

Enche a cabeça, solta a língua,

veja como começa o seu viver à míngua.

 

Enche a história, coloca o terror,

veja que sua memória perdeu o pudor.

 

Enche o cofre, esconde o dinheiro,

veja por quê sofre o tempo inteiro.

 

Veja seu conteúdo, tão pestilento,

tornou–o miúdo, sem noção e avarento.

 

Veja o resultado, sem rumo e sem freio,

está tudo acabado, acabou o recheio.