Você escorre na chuva
A água na janela tem teu cheiro
O barulho no telhado é teu riso
Você escorre com a dúvida
A incerteza é teu semblante
Vêm carregada e confiante
Confiante de que não sabes bem
O que devemos fazer agora
Na rua você se desmancha
Sai correndo mundo afora
O céu é todo teu, é todo ti
Aqui o cinzento já morreu
E eu te ouço falar, escuto
Um tom de voz cansado
Por baixo deste canto assombrado
Me vejo perplexo, mudo
Você me enlaça, escorrega
Cai no chão e morre
Eu desperto, te procuro
Mas você já se foi
Está um breu, dou um gole
Na garrafa de água do escuro
E esterilizo este nós dois
Que têm em cima do muro
Eu te recito, você, você...
O mundo todo chora
E desesperado, lá fora
Corre meu eu para te ver
As cortinas se retraem
O sol ainda não surgiu...