Liduina do Nascimento

Encantamento

 

 

Encantamento

 

Não era quase um dia bonito, era na verdade um dos dias mais bonitos de uma vida, havia um significado maior não só para gota a gota, alimentar alguns restos de sonhos, mas resgatá-los renovados e determinados à se realizarem, era para se guardar a beleza daquelas horas inesquecíveis do encontro da alma com a essência do próprio existir, ao descobrir o quão maravilhoso era escutar, assistir, sentir-se, saber-se parte do mundo ao seu redor. Sentir o calor do sol, ou molhar-se na chuva, tocar a flor, e ao sabor do fruto maduro, o vento soprando, e sempre sentir! E pensar... para além do que se podia alcançar, viajar! Ter nos olhos, com nitidez, o reflexo do amarelo dos girassóis, e alma repleta de amor. Fugir no voo minucioso da abelha, que calmamente suga o mel, assim beber a vida, correr os campos até encontrar os jardins mais floridos, neles confundir-se. Emaranhar-se nos galhos das roseiras com os galhos das árvores, distinguir o azul do céu, com azul das outras flores, bem como escutar a algazarra da passarada em festa, misturar-se às borboletas, atravessar a ponte sobre as águas apressadas de um rio, e do outro lado, ouvir sem se espantar, o sino tocar ao longe, que seja, que a vida aconteça. Feito uma criança abraçando a mãe que sorrindo a acolheu, ao mesmo tempo, feliz, viu um destemido Sabiá, que ao encontrar aberta a porta da sua gaiola, onde tristemente cantava, alçar o voo mais incrível, e com o pássaro feliz, fugiu! Agora a tristeza se foi para sempre! Em pensamentos, pelos céus a alma se perdeu, para se reencontrar.          Naquele doce encantamento, respirou fundo, pegou por entre os seus dedos algumas pétalas caídas, das frágeis margaridas, saiu como se fosse pegar a estrada para a felicidade, deixando para trás tudo o que causava dor ou angústia, colocou na poeira do tempo a sua própria tristeza, que os ventos a soprasse para que se perdesse no infinito.

 

Liduina do Nascimento