mars

urubus

você não muda e nunca vai mudar, você age como se fosse dono do mundo e está tudo bem ser dono do mundo, mas não do meu mundo 

você se considera dono do meu mundo e dói, dói se perder em si mesmo porque outro alguém está tomando posse de você, está te roubando de si mesmo 

eu sou meu próprio universo eu sou aquilo que mais prezo, porque esse mundo é cruel então resolvi criar meu próprio e você foi lá e tomou como seu, invadiu e me proibiu de ter meu universo particular, você fez isso como se tivesse o direito de me roubar de mim mesma.

você me roubou porque já estragou seu mundo e não foi do jeito que você queria, agora se acha no direito de roubar o meu para ser aquilo que você nunca conseguiu ser 

eu amo as estrelas gosto de observa-las porque isso me trás paz, um dos poucos momentos que eu consigo esquecer que existo, quero olhar as estrelas até que meus olhos queimem quero simplesmente esquecer 

você veio e roubou cada uma delas cada uma dessas estrelas, você roubou minha noite porque prefere dia, apagou meu ser porque suas páginas acabaram e agora você quer roubar as minhas, você as rouba e apaga cada pedacinho que escrevi de mim mesma, e escreve em cima.

está doendo você está fazendo tatuagens na minha pele durante o processo, está me apagando tanto que minhas páginas estão se rasgando e você não liga se as rasga porque no final das contas seu livro já está completo mesmo 

estou morrendo você está me apagando e me tomando como se eu fosse sua, está escrevendo uma história que não quero viver, está me prometendo ao destino sendo que eu não me prometo nem a mim mesma 

você me ama até onde isso é confortável e isso não é amor, você ama o outro pelo oque ele é e não pelo oque você quer que ele seja, não consigo ser isso, não consigo ser essa imagem que você criou para amar.

e você se revolta, sempre arranca pedaços de mim para ver se consegue montar uma parte nova, do jeito que você quer, e no processo você perde meus pedaços 

arranca meu sangue e parte de meu cérebro, o amassa como se fosse argila, tentando moldar aquilo que você quer amar 

você está perdendo minhas partes apodrecendo o restante está deixando feridas por todo meu ser e não consigo recupera-las, não sei como achar minhas estrelas não consigo olhar meu universo de novo porque agora ele não é mais meu

eu imploro por misericórdia imploro por estrelas novas, imploro por meus pedaços amassados pelas minhas páginas rasgadas eu só quero me ter de novo 

eu só quero que me amem sem me tratarem como a própria argila, eu não quero ser amada se no final das contas esse ser amado não sou eu de verdade mas apenas quem estão me forçando a ser 

escrevo em todas as línguas que conheço desenho tudo aquilo que posso para ver se assim marco um pouco de mim de um jeito que você não entenderá, talvez assim não me roubará 

estou fazendo poesia com minha dor eu as escondo até mesmo da luz do dia porque tenho medo de rouba-la também roubar minha dor 

você me proíbe de sentir, eu não sei mais como sentir depois de tanto tempo fingindo

você me matou e nem mesmo tive velório digno nem pude me despedir daqueles que amava porque você me comeu como urubus comem carniça e talvez você seja um

a única diferença é que eu não era carniça eu estava viva e assisti você arrancar tudo que tinha, todos meus pedaços e tive tempo de apenas assinar meu nome com sangue no chão para ver se pelo menos um pouco do que um dia fui ficasse

preciso que uma parte de mim sobre nem q seja uma mera assinatura, preciso saber que um dia existi que nem sempre fui esse livro rasgado

-a todos aqueles confundidos com carniça