Cecilia

Agro

AGRO

O homem se espreguiça, esfrega os olhos,

abre a janela, agradece à alvorada,

que se anuncia no leste.

Lava o rosto na água fria,

 sorri estremunhado para a mulher

que esperta as labaredas no fogão de lenha.

Agradece o cheiro do café,

o canto do galo, o ressonar das crianças.

 

Calça as botinas pesadas, chama o cachorro,

Pega a marmita, levanta a enxada.

Tardezinha volta, se lava,

sorri para a mulher no tanque,

afaga os meninos no terreiro,

 guarda a enxada até amanhã.

 

Todos os dias vigia:   a semente brotando,

 a planta que viça, a espiga que se se curva,

loura e pesada, cheia de sol e de vida.

Todos os dias vigia: os caprichos da chuva,

o crescer de ervas daninhas, a invasão dos insetos.

 

O alimento que ele arranca da terra

nós consumimos distraídos, apressados, preocupados

com as calorias de meio pãozinho francês.