AGRO
O homem se espreguiça, esfrega os olhos,
abre a janela, agradece à alvorada,
que se anuncia no leste.
Lava o rosto na água fria,
sorri estremunhado para a mulher
que esperta as labaredas no fogão de lenha.
Agradece o cheiro do café,
o canto do galo, o ressonar das crianças.
Calça as botinas pesadas, chama o cachorro,
Pega a marmita, levanta a enxada.
Tardezinha volta, se lava,
sorri para a mulher no tanque,
afaga os meninos no terreiro,
guarda a enxada até amanhã.
Todos os dias vigia: a semente brotando,
a planta que viça, a espiga que se se curva,
loura e pesada, cheia de sol e de vida.
Todos os dias vigia: os caprichos da chuva,
o crescer de ervas daninhas, a invasão dos insetos.
O alimento que ele arranca da terra
nós consumimos distraídos, apressados, preocupados
com as calorias de meio pãozinho francês.