mars

Purpurina

Dói não te ver mais, dói não enxergar aquela pessoa que eu costuma ver 

Não consigo mais achar sua perfeição, não consigo mais clamar sua respiração, porque no final das contas nunca se clama a respiração de alguém além da sua própria 

mas eu clamei, clamei com todo meu ser e me perdi em você, é impossível se achar quando se está perdido em outra pessoa 

clamei tanto sua respiração que me perdi, tive que morrer um pouco por dentro para me achar de novo, e quando isso aconteceu voltei a enxergar 

enxergar a pura verdade, a mudança, e dói, dói porque para mim era tão comum te assistir em um pedestal que quando te tirei de lá doeu 

doeu porque estamos tão acostumados com a dor, com isso de endeusar pessoas, era tão comum para mim apagar seus erros, apaguei um pouco de mim para ver se assim te consertava 

eu me ceguei e acreditei que enxergava até através de navalhas, e enquanto isso minha pele era cortada, e me recuso a sangrar em cima de pessoas que não me cortaram

É impossível consertar pessoas, pessoas são erradas são maltratadas e malvadas, não se tem como consertar algo que sempre terá natureza quebrada 

E o erro foi meu, porque parece que inventei tudo que aconteceu, criei uma história que nunca existiu para você, vivi um conto de fada que eu mesma criei 

só que esse conto de fadas não teve um final feliz, hoje te vejo, me acostumei a te amar tão incondicionalmente que dói não conseguir te amar mais 

Dói mais em mim não te amar do que em você, me acostumei a te amar sozinha a te venerar sem ser venerada, que quando deixei de te amar doeu, doeu não conseguir mais fazer isso, e dói mais ainda ver você não se importar com eu não conseguir te amar 

não se deve prometer o incondicional ao outro, isso vai te queimar, não se deve amar ninguém incondicionalmente, isso desmancha erros e esconde machucados, quando se ama incondicionalmente você finge que essas lâminas são plumas, e isso te matará 

você se acostuma tanto a apagar o erro do outro que se apaga junto a eles, você apaga esses erros porque prometeu a si mesmo que deveria amar incondicionalmente, mas não deve 

amores incondicionais não são verdadeiros, são cadeias, prisões imaginarias, não se é real, você se acostuma a jogar purpurina em pessoas e essa mesma purpurina cai em seus olhos e te cega.

o amor verdadeiro é o condicional, é aquele que você vê erros, você vê e os ama, porque quando se enxerga isso, é mais fácil de se salvar, quando se ama sobre a condição de se manter de pé, sobre a condição de não se perder, de se esquecer.

porque se você tem condições e ainda ama alguém, então erros não são tão ruins assim, então essas condições não te limitam mas te salvam do abismo de se prometer a outro alguém 

o único amor que deveria ser incondicional é o amor próprio, mas ele não é, condicionamos tanto a nossa existência ,nos amamos tanto sobre condição que apagamos nosso brilho.

Temos erros e está tudo bem mas você precisa se amar sem condições porque quando você cair, só você pode se levantar, quando chorar são as suas mãos que limparão suas lágrimas, e quando todos se forem é você que vai continuar e não por outra pessoa, mas por você mesmo 

-a todos aqueles que se cegaram com purpurina