A FILHA DO PROFESSOR
Fui matreiro, sem ser displicente
Isso não! Joguei bafo, joguei bola,
Fiz bodoque, e lançava meu pião
Sempre anuí respeito ao docente
Meu velho pai animava e me dizia:
Te medirão pelo grau de instrução
Não falte à aula e honre a serventia
Prove a ti mesmo a tua educação
Lá ia eu abraçado ao bornalzinho.
Meu uniforme até no quarto ano
Camiseta, bermudão e chinelinho
Quis estudar pra ser o \"seu Fulano\"
Jamais seria, igual Albert Einstein
Nem queria ser um João Ninguém
Mas foi no quarto ano do primário
Que a vida mudou o meu itinerário
Neste dia se sentara do meu lado
Uma menina botão abrindo em flor
Olhos castanhos, lábios torneados
Grata surpresa! a filha do professor
Rosto redondo de anjo encarnado
Meio sem jeito, tentando disfarçar
Quase toquei seu cabelo cacheado
Relutei pra não perder o meu lugar
Prometia ser um ano de emoção
Ali sentados, e na mesma carteira
Tudo fazia pra chamar su\'atenção
Ela sorria balançando a cabeleira
No recreio encurtava a distância
Pegava sopa se tocando na fileira
Flagrados afastados das crianças
Dava bronca a bondosa cozinheira
E assim estudamos o ano inteiro
Nao entendi o que de fato sucedeu
Vindo a prova do exame derradeiro
Ela \"rodou\", só quem passou foi eu
Teria o Mestre reprovado sua filha?
Ou preferiu ter ensino avançado?
Triste rever a estampa da cartilha
E lembrar como dois enamorados
>>>>>>><<<<<<<.
Ouso afirmar com base na certeza
Nunca o pai, inda mais um professor
Que vê no filho a sua maior riqueza
Pise no ensino em nome do amor!
O instrutor, se mantém imparcial
A mesma sala considera uma familia
Sente tristeza do aluno que foi mal
Sorri feliz pelo outro quando brilha
E eu medito olhando a nova turma
Sinto um vazio que recuso a aceitar
Com outra face a gente acostuma
O que dizer do que chegou para ficar?
Do meu lado uma sombra do passado
Não é ninguém, só minha sensação
Algo infantil que todos têm guardado
E conservado no estojo do coração .