DELIRIO
Mas quando foi que nossas vidas se cruzaram?
Mas em que tempo? Em que mundo? Em que vida?
E qual poder irresistível nos marcaram,
quais viajantes desterrados, sem guarida?
Mas quando foi que teu olhar tão penetrante,
no meu cravou-se incendiando um sentimento,
e qual bacante numa orgia alucinante
prendeu mi! Alma eternizando este momento?
Às vezes vejo num delírio impressionante,
qual sonhador em devaneios reluzentes,
duas figuras num bailado estonteante,
pelos salões de mil palácios resplendentes!
E engalanados sob sedas e brocados,
entre realces de reinados de princesas,
m! alma sente que embora alucinados,
fizemos parte destas velhas realezas!
É bem verdade que já dantes existimos,
já fomos reis, fomos juízes e mendigos,
e nas estradas que deixamos desatinos,
retornaremos a buscar nossos abrigos...
Nelson de Medeiros