Jucklin Celestino Filho

ESPANTALHO

Coloquei um espantalho 

No milheral 

Para afugentar 

Os passarinhos 

Que estavam fazendo 

Um estrago danado 

Na minha plantação. 

No outro dia, 

Quando fiz

A visita matinal,

Como previa,

Tudo estava parcialmente normal,

Apenas  poucas espigas estragadas

Pelos passarinhos,

E as demais

Como era bom vê-las 

Belas, sadias,

E tê-las 

À palma da mão. 

 

Ao lado, num galho,

Vistoso

Pássaro 

Sorria

Amistoso

Pra mim.

Se via, 

Na face dele que luzia,

Que  queria 

Não de mim zombar,

Apenas chamar-me à atenção:

-- Por que o alarde?

Qual a surpresa?

Tiveste o trabalho

De fazeres um espantalho 

E colocá-lo no meio

Do milheral 

Para nos afugentar!

Teu ato foi inútil e feio.

Viu pra surpresa tua, irmão,

Que tudo estava intacto.

A não ser ,

Pouquíssimas espigas estragadas,

Jogadas no mato!

 

 -- Moço, pior espantalho,

Que não está  fincado 

Em nenhum madeirame, ou galho,

Cruel, perverso e apavorante

É o ignorante 

Ser humano,

Que movido

Por diabólicos planos 

De riqueza,

Escraviza o próprio ser humano ,

Como se dele fora dono,

E  não fugimos do dito

Ser humano,

E há dentre eles,

Os chamados 

Animais racionais 

Que nos maltratam,

E por brincadeiras

Imbecis alguns nos matam,

Nos aprisionam 

Em gaiolas infames,

E não odiamos

O denominado

Bicho-homem!