Eliabe Lira

Compreensão própria

De que vale um xícara em cacos?

Um espelho completamente tricado? 

De que vale tanto sentimento e palavras

Se o coração está em pedaços? 

 

Estou jogado ao mar das incertezas

Com tudo e nada a minha frente

Enxergando nada mais que névoa 

A névoa da impotência, da covardia do destino.

 

Sou partituras de Vivaldi 

Sou verão quando há inverno

Sou inquietação na primavera

E tudo são folhas secas no verão. 

 

Eterno escravo de vontades perversas 

De escolhas sem sentido 

De ações inapropriadas 

De letras que mudam e de versos graduados.

 

Esquecido na gaveta, sou brinquedo 

Julgado por todos, sou mulher de ervas

Acatado pela corte, sou seu bobo 

Dono de todos os sons, sou extremo silêncio.

 

Amante de metáforas, mas completo paradoxo 

Quem me vê, me lê, me classifica 

E quem é o dono da verdade? 

Quem pode me dizer o que sou?

 

Um ajuste ou aprimoramento 

Controle, prisão 

Pequenas mudanças não significam o novo 

Submissão, cópia, não os ouça. 

 

Já não tomo mais um café,

Não me vejo no espelho,

Já não escrevo, pois não sinto, 

E de amores arrasadores não dou mais correspondência.