Luís Filipe de Araújo

sentir sem entender

como tudo ficou tão confuso?
você pode sentir no ar
nas nuvens carregadas no céu
delas só caem momentos pesados.

queríamos voar
inventamos o avião e nos afastamos.

meu eu criança correndo com uma toalha amarrada no pescoço
queria ter poder
não ser um herói
mas queria ter poder
correr pela casa era a única coisa possível
a cachorra seguindo, amiga
ela era de uma raça supostamente violenta
mas ela era a violência mais doce que existiu.

meu amor de criança se chamava Sarah
mistura de asiática com brasileira
ou brasileira com asiática e sardas
amor de criança, sem sentido
sem nem saber o que era
mas sabia para quem era.

olhar as estrelas na porta sem questionar a existência das coisas
o aqui e agora era o que importava
as estrelas eram pessoas que se foram
não mistura de gases.

gritar, deitar e rolar era mais fácil
falar e não pensar
chorar, chorar, chorar e calar
sorrir em seguida
dormir e dormir
dizer não querendo dizer sim
criança é a verdadeira verdade.

com anos passados que tornaram os dias flashbacks
passei a entender as pessoas
tudo virou um labirinto
minha mente virou um campo minado
desapegado
quebrado.

chorar não pode mais
não na frente do outro
tem que ser um chorinho calado
falar o que sente não
não pro outro
tem que falar coisas pra machucar
pensar agora é comum
real, pesado, tedioso
não se tem a fantasia real da criança, passou.

agora o que fazer?

prefiro não entender
sentir é melhor
sentir sem entender
entender que sente
mas sentir sem entender.