Thiago Melo

#1

Canto como quem chora as noites abertas.

E tenciono como quem aguarda um sopro.

Tenciono o lábio com amargos dizeres:

Eu sonho como quem espera ouvir-se sonhar

Eu canto como quem esquece, da dor do homem.

Dentre os dentes do teu sorriso esforçado,

Esgueiro-me como amaldiçoada reflexão dos teus desejos

E dedico aos teus dedos espalmados, uma música

Deveras da noite dona, que deixa de lado o pudor

Para a ti cantar,

Eu ergo-me ao salto,

Querido, amado...

Canto como quem ama,

Esses teus olhos em mim.

Como se mostra uma criança

Revestida de maturidade aos pais?

Não se entendem como adultos

Visto que sou para ti, como criança é para os pais

Nada sou então, além da saia e dos versos mal cortados.

Estrelas sobressalentes no páramo do meu sonho

Eu canto como quem espera um dia ser ouvida

Por alma que entenda o canto de não dizer nada

E mais do que dizer nada, tenha-me como os olhos que tenho a ti

É decerto que o amor não preenche versos,

O que preenche, é o que o amor lembra

Quando eu sonho pensando alto, eu sinto cheiro de grama

Quando penso na tua figura, eu fecho-me como crisálida

E teus olhos baldios, como quem esconde a bagagem dos sentidos

São reminiscências, e lembram deveras o cheiro de chuva a banhar

Uma criança, que corre como quem ama, e ambiciona ser este o Deus único.

 

Elisa