PROCURA
Eu me propus, um dia, em aventura ousada,
Achar tua alma por milênios procurada...
E em sonho louco, entrecortado de esperança,
Eu te busquei pelas manhãs de primavera...
E dentre as flores do jardim de uma quimera
Eu te esperei na mais fiel perseverança!
Suplicava, então, com profundo sentimento,
Pudesse ter-te nem que fosse um só momento,
Alma com alma gozando a mesma emoção!
Sondei-te, em vão, pelas manhãs ensolaradas,
No vai e vem destas marés esbranquiçadas,
Vendo o horizonte mergulhar na imensidão!
Eu me perdi em madrugadas orvalhadas,
Sorvendo dores de paixões inexplicadas
Que dentro d\'alma me ardiam em solidão!
Cerquei-te em preces nas mansões angelicais
E em tristes versos prometia em madrigais,
Que por inteiro eu te daria o coração.
No entardecer ruborizado de harmonias,
Por entre a brisa sussurrando melodias
Eu vislumbrava a tua sombra em cada trilha!
Cantei-te o amor em meigas tardes vaporosas
E nas estrofes de cantigas langorosas
Vi-me Dirceu a te sonhar como à Marília!
Mas isto tudo foi um prêmio ou foi castigo?
Por que me deram conhecer-te e estar contigo
Se me isolaram neste mundo de saudade?
Eu bem pressinto o teu olhar, mas não te vejo,
Minha alma pulsa de desejo e não te beijo
E nos separa a dimensão da eternidade!
Ah! como é triste e malfadada a realidade:
Cheguei cedo nesta vida e tu tão tarde...
Não te tenho e não me tens, não és minha nem sou teu!
Mas, que me importa esta saudade, esta distância
Se a ânsia que suporto no meu peito é tua ânsia,
E se a dor do pranto teu dói aqui no pranto meu?
Nelson de Medeiros