Tua algidez tornou em pedra minha alma
Por longas estradas turvadas na neve
Em volta congelam, exemplares da fauna
Morre com elas quem ao fim subscreve
Coelhos e lobos conhecem o percurso
Por instinto criaram meios pra se viver
Tem faro o Esquilo, tem forças o Urso
Só eu já não tenho porque lutar e vencer
Meus gritos não ouves, sem consciência,
Que nas noites frias é incerto o caminho
Outra vez minha dor é dessa insistência
De te dar meu amor por teu falso carinho
Não vejo estrelas, nem o sol renascendo
Ciclames se curvam sem luzes da aurora
Eu sinto que aos poucos vou padecendo
Como padecem, as Hortências, na flora
Ainda perquires milhões de segredos
Nas entrelinhas do que o poeta escreve
Maior que o frio, é o sentimento de medo
De fazer poesias sem chiste, sem verves
A mão que segura a caneta, tremula
O talento é inato, não surgiu de repente
Mesmo o adverso seu peito estimula
Recita seus versos se tem braço fremente
E quando sentires vento nas pradarias
No rude inverno que o verbal não descreve
Se atente na voz que declama as poesias
Verás que sou eu, poeta, boneco de neve