Já se vai o dia, manto da aurora.
Já se vai o pranto, cria da poesia.
Os vícios de ontem fogem do agora,
onde seriam postos às provas vis dos escrutínios.
A vela acesa traz ao chão um pedaço de céu.
O sol vivo da escuridão é só o mel do senão.
Se nada provam os precipícios, mais do que os abismos,
os degraus não formam escadas nas faces do papel.
A noite brinca de sombras e dissolução.
O véu, que encobre, é o mesmo que desvela.
E quando Medo e Sono lado a lado se emparelham,
as oitavas precipitam-se ao nada em contradição.
O mais grave e o mais agudo tornam-se mudos,
embalam o adulto sisudo no berço do descanso.
E quando encara da noite o umbroso manto,
no colo do Sono, o filho da treva, torna à infância.
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Este poema integra o livro: A Progênie da Noite