Guardadora
De belas paisagens, dos tantos céus bordados e das asas,
e de gestos que me levaram para lugares tão distantes...
de nuvens ... transbordando, de crepúsculos dourados.
De
Marés, lavando as lágrimas deixadas, queimando a areia.
Guardo pouca crença, antigos costumes, busco o silêncio,
quebrando-o somente, pelo encanto, do canto das sereias.
Sou guardadora dos ventos fortes soprando as laranjeiras.
Guardadora
De estações, de trens na partida e nas chegadas, de alegria,
e de dor ... guardadora sou. Das saudades dos beijos seus,
não dados, também do seu abraço, dos sonhos e miragens
dum amor tão intenso, resistente e bem guardado.
Sou guardadora de tantos caminhos secos, outros floridos,
repletos de passarinhos, de belos girassóis e margaridas.
Guardadora
de poemas secretos, de palavras jamais ouvidas,
posso guardar sendo feliz, nenhuma ilusão é de todo perdida.
Guardadora de luas, e muitas ilhas que criei para nós dois.
Do canto dos grilos, do pisca, não pisca dos vaga-lumes,
enchendo-me duma verde esperança, clareando as matas
da minha solidão. Do verde, que reaviva os meus sonhos
de ter você, que sempre meus pensamentos acompanha.
Guardadora de ilusão, para além da travessia dos rios, dos
mares, atropelando os devaneios meus, tão, seus!
Sou guardadora
de desertos, de estradas e de voos, busca
incessante, fantasia... de alcançar seu amor que adoro ter,
grudado em minha alma, sou guardadora de tanto tempo,
do tempo em que não tinha na vida, tanta calma... Guardo
ipês, guardo cactos, guardo invernos interiores, tão meus
somente, guardo as árvores que não tive onde plantar, vou
transformar em amor as suas sementes... guardo um abrigo
certo, gosto de sentir que de mim, está sempre por perto,
é em sua alma de poeta, que quero infinitamente morar.
Liduina do Nascimento