Jessé Ojuara

Sigo a dor

 

Sigo preguiçoso na rede, os prazeres de  aventuras estranhas.

Como um Quixote burlesco, tenho sonhos emprestados.

Com moinhos sem ventanias, sonhos de padaria e Dulcinéas maquiadas. 

Meu Rocinante alugado, cavalga em pasto de grama sintética, trazido por um Sancho Sem Pança.

Meu sonhar é programado, num roteiro bem marcado, com anjos de corpos perfeitos.

Minhas feras domesticadas, alimentadas e treinadas, fazem poses bem filtradas, num mundo irreal, que não  conheço.

Meu Narciso reflete a imagem num espelho estilhaçado, sem ego. 

Um condor de asa amarrada, cisca junto com as galinhas. 

Minha dor está anestesiada, com fantasia mascarada, esculpida em silício. 

Onde estão meus milhões de amigos, que não ouvem meu soluço abafado, por um riso disfarçado em fotos de laboratório.

Só sei que tudo sei. Aprendi, sem nunca apreender ou produzir meu próprio saber. 

Vida fingida, tingida, anulada pela preguiça,  medo de viver, de pensar e de sonhar.

Curtiu? Eu curto, esmagado, dissecado, anulado, maquiado,  só sigo, sem seguir o sol, sigo só.