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alana

conversa com epicuro

epicuro disse uma vez que a quem não basta pouco, nada basta.
epicuro, diga para mim,
olhando no fundo dos nos meus olhos castanhos, quase negros,
e perceba bem de perto minhas sobrancelhas escuras e espessas,
fite também minha boca vermelha e carnuda, de onde saem
as palavras mordazes das quais já deve ter ouvido falar
e não pare por aí:
note o franzir do meu cenho,
o torcer do meu nariz,
o elevar da minha postura
e a rispidez que se adianta da minha resposta
que você ainda nem ouviu
e diga-me: como é que pode me bastar pouco,
se fui erguida em chama incessante,
levantada em tempestade iminente
e cravada pelas unhas e dentes das deusas famintas?

se sua filosofia estiver correta,

morrerei inquieta, sem que pouco nenhum me baste
porque muito já era meu por direito,
desde o dia do meu nascimento
e esse é o meu basta para essa discussão
que jamais existiu.