Era o mês de primavera, dia da libertação
Desfiles...comemoração
Não mais vi, muito menos agora
O dia era de chuva
Lá fora, na calçada, tentativa de fugir....
Me iludir... Fingir
Debruçada numa fantasia:
Matar aquele dia
Tal como fora antes, a mesma comoção
Tudo do mesmo jeito, parece que o dilúvio se repetia
Tanto o sangrar do peito quanto o movimento daquele dia
Na varanda os mesmos assentos, quase num mesmo som, os lamentos...
Meus olhos afogados no pranto, a fitar o imenso vazio
Novamente minha vida sem acalanto
Tento não pensar... Não lembrar
Os pingos de chuva às lágrimas misturados
Parecia que o mundo havia parado
Olhava para o nada
O nada da rua...
O nada de gente que entrava e gente que saía
O nada em que eu me tornava, na calçada, jogada
Toda minha alma ali derramada...
Muitas vezes eu me vi fora de mim
E de fora do meu ser eu via minha fragilidade
Tentava recolher-me daquele chão
Mas não mandava na vontade
Lá dentro, na sala, tudo era flores
Por certo, batendo à porta, a primavera
Não se importava com minhas dores
E com o inverno cinzento e frio
Que congelava todo o meu ser
Abrindo meu coração como da navalha o fio
Era mês de primavera
A sala repleta de flores
Nem sei de quantas cores
Alheias ao meu olhar perdido
Sem horizonte... Sem chão...
Perguntando a Deus se havia explicação
Para se interromper aquela existência, tão de repente
Resposta calada... Inexistente.
Eu olhava...
Mal podia acreditar
Era novembro, muitos raios de sol
Quando ele viajou...
As imagens se misturavam na lembrança
Ora ele, no sono eterno, ali jazia, como se voltasse
Ora ela, como a me olhar, tão presente
Diante do olhar de tanta gente
Essas lembranças vivem no meu agora
Tantos dias... Tantos meses, anos...
Meus versos, quase profanos
(Por causa dessa saudade
E o pranto que hoje me invade)
Pedem ao dono da vida o perdão
Por estar sangrando, de novo, o coração
Por reviver todo aquele sofrimento
Os meus piores momentos
A cruel e definitiva separação.
O tempo não passa, cada dia refaz
A saudade trespassa, de frente para trás
É infinito o sofrimento
Hoje, não menos que antes
A saudade é lancinante
Como foi naquele momento, que ainda aqui jaz
Sigo no caminho olhando para os lados
Em tola esperança
Voltar no tempo....
Novamente criança sem saber que teria um fado
Com refrão repetido, em dó (r)
Quando deixaram - me só
Na imensidão de dias dessa carência
Sigo como se estivesse inteira
Mas só o criador do universo
Sabe que me faltam dois pedaços, minhas rimas queridas
Para compor belos versos
Era novembro, muitos raios de sol
Menos de dez meses após
Num setembro florido
Ela o seguiu, fiquei, de vez, só
Abraçada à saudade
Até que na eternidade
Outra vez seremos nós
Unidos no amor
Curados da dor
Renovados... nova vida
Onde não haverá mais despedida
Edla Marinho
07/09/2020