Antonio Aurelio Felix

ISSO É CIDADANIA?

ALFORGE DE CAÇADOR

No meu alforge de caçador

Eu levo a baladeira

A familia inteira

E um pouquinho de dor.

Eu levo os necessitados

E também os oprimidos

Que por uns tempos são esquecidos

Em outros são lembrados.

 

Eu levo esperança e saudades

Dos que sairam do sertão

Que no peito tem a vontade

De voltar pra casa então.

Levo um pedaço de rapadura

E um punhado de farinha

Os sinais da vida dura

E os conselhos de Mainha.

 

Levo o forró e o xaxado

E as noites de São João

Pegas de boi e milho assado

E as festas de apartação.

A morena cor de canela

Chapéu de couro,perneira e gibão

Que formam a linda aquarela

E são as coisas mais belas

Do meu querido sertão.

 

Levo a poesia matuta

Do caboclo da roça

Que de tanta labuta

Tem a palma da mão grossa.

Eu levo os repentes

Dos cantadores da minha terra

O que sai de suas mentes

São as coisas lá do pé da serra.

 

Eu levo a seca

E descaso dos governantes

Que a verdade não se perca

Das legiões de retirantes.

Que sairam de sua terra

Por causa do sol escaldante

A saudade não se encerra

morando bem distante.

 

Eu levo o almento

De mães e pais sofridos

Que não tiram do pensamento

As lembranças do filho querido.

Que está longe de casa

O passarinho criou asas

E está no mundo perdido.

 

Eu levo a vontade

A paz e o amor

A procura da felicidade

Que a muitos já encantou

Tudo isso eu levo

No meu alforge de caçador.