ALFORGE DE CAÇADOR
No meu alforge de caçador
Eu levo a baladeira
A familia inteira
E um pouquinho de dor.
Eu levo os necessitados
E também os oprimidos
Que por uns tempos são esquecidos
Em outros são lembrados.
Eu levo esperança e saudades
Dos que sairam do sertão
Que no peito tem a vontade
De voltar pra casa então.
Levo um pedaço de rapadura
E um punhado de farinha
Os sinais da vida dura
E os conselhos de Mainha.
Levo o forró e o xaxado
E as noites de São João
Pegas de boi e milho assado
E as festas de apartação.
A morena cor de canela
Chapéu de couro,perneira e gibão
Que formam a linda aquarela
E são as coisas mais belas
Do meu querido sertão.
Levo a poesia matuta
Do caboclo da roça
Que de tanta labuta
Tem a palma da mão grossa.
Eu levo os repentes
Dos cantadores da minha terra
O que sai de suas mentes
São as coisas lá do pé da serra.
Eu levo a seca
E descaso dos governantes
Que a verdade não se perca
Das legiões de retirantes.
Que sairam de sua terra
Por causa do sol escaldante
A saudade não se encerra
morando bem distante.
Eu levo o almento
De mães e pais sofridos
Que não tiram do pensamento
As lembranças do filho querido.
Que está longe de casa
O passarinho criou asas
E está no mundo perdido.
Eu levo a vontade
A paz e o amor
A procura da felicidade
Que a muitos já encantou
Tudo isso eu levo
No meu alforge de caçador.