Marcelo Veloso

CANTO DERRADEIRO

Hoje eu canto, canteiro,

cantiga de roda,

não tenho dinheiro,

não sou dono da moda.

 

Hoje eu falo, exalo,

exclamo na fila,

não venho de estalo,

não sou dono da vila.

 

Hoje eu chego, aconchego,

e nego o clima,

não ponho no prego,

não sou dono da rima.

 

Hoje eu oro, demoro,

estouro no grito,

não acerto no coro,

não sou dono do apito.

 

Hoje eu quero, bolero,

dança bendita,

não tenho e tolero,

não sou dono da guita.

 

Hoje eu rimo, arrimo,

cabeças e nucas,

não tenho bengala de limo,

hoje morro popuca, putuca!