Gentil amigo meu que partes sem despedidas
Fugindo de uma abreviada amizade cerceada sem razão
Das memórias intensas e das recordações transcendidas
Daquele curto espaço de tempo em que o corpo era são
O desassossego em que me deixaste nestes dias
Em prantos de lágrimas exageradas de esperança perdida
Acontece sob o feitiço de magos aprendizes de almas sadias
A que sobrevivo sem fulgor nesta desesperança brandida
Sadia era a amizade, fortalecida por laços inquebrantáveis
Assim julgados pela carne, fraca, que amiúde nos trai
E nos desperta para a cadência dos ponteiros instáveis
Do relógio da vida, criador de ilusões, que nos distrai
Gentil amigo meu que partes e deixas este vazio imenso
Impossível de preencher com palavras incontidas
De angústia e de dor que não apagam o tempo
Transformadas em pensamentos ocultos e lágrimas vertidas
Ainda que não faltem, mas também não sobrem
Momentos efémeros de uma amizade contida
Relembro já com saudade a rectidão do homem
Que em ti habitava e se afirmava na plenitude da vida
Tivesse eu o condão da atribuição do tempo e da vida
E jamais, jamais, um segundo em vão seria perdido
Em quezílias fúteis e comezinhas, sem qualquer razão envolvida
E no entanto, assim, só, me deixas, incrédulo e aturdido