Se você acredita em tudo
E não duvida de nada
Parabéns, você já faz parte da manada
E se adora
Ou idolatra uma imagem
Ora, ora, desgraça pouca é bobagem
Você é uma mente subjugada e nem percebeu
E se Raul não lhe convenceu da metamorfose ambulante
Será inútil um flagrante de uma traição que você mereceu
Se para você a nudez de um Rei é linchamento
Sua negação já é um útil instrumento
E mesmo que a imagem já esteja nua
Há quem acredite que o homem não andou na lua
Sim, há quem acredite em uma verdade
Uma verdade que é só sua
Que nunca houve o Holocausto
Pois tem quem garanta que Sade era inocentemente casto
Acredita-se no que quiser
É crença, é metafisico, acreditar é vontade
Mesmo sem um nível de evidência
Acreditar é fé, e não ciência
E nada que se diga, ou se ponha de pé
Ou se mostre, ou se comprove
Nada demove ou fará diferença
Nada mudará a ignorância ou despirá a inocência
Há os que leem todos os pontos de vista
E refletem, despendem seu tempo
Mas há quem seja um idealista
Para quem o ideal é um irredutível sacramento
Flertam com o fanatismo nutridos por panfletagem
Zéfiros políticos nos seus catecismos de sacanagem
Podem ver o ato, testemunhar o fato
Mas encontrarão sempre uma explicação
Sublimação, conspiração, extrema unção do bom senso
Mas não importa o que eu penso
Pois há os que pensam o contrário
Cada um tem seu próprio gosto
O oposto e o sectário
Para muitos Stalin foi bom
Mao ainda é um talismã
Os que adoram Genghis Khan
Há os que acham Hitler um gênio
É bom nem contestar, eu mesmo me abstenho
A esta altura o mundo está uma loucura
Está tudo de pernas para o ar
Nem que mostrem as impressões digitais
Nem mesmo câmera oculta ou DNA
Nunca, never, jamais
Para tudo há uma desculpa
Se iludir é um dom, tão bom
Como um Sieg Heil!