Marcelo Veloso

MORTE: LIÇÃO DE VIDA

 

O nordeste seco dá

vida à morte

num ensaio literário.

Estúpida e cruel

a saga severina

de um triste operário.

 

Em cada passo alcançado

mais próximo da água

lavada em prova,

os olhos se arregalam

com a tristeza ofegante

de mais uma aberta cova.

 

Nos caminhos do deleite,

sobram trechos de rio seco

envoltos em solidão,

numa música espantada

de ouvir... em alegria ?

- Não ! Só morte em profusão.

 

E até chegar à lama

ou ao inconsciente

do destino em desatino,

não há preguiça que dê jeito,

mesmo num estufar de peito:

- Faço tudo e até ensino !

 

De que vale

o conhecer lavra-terra

plantar-colher-sabe-lá-o-quê,

se não há nada

que se semeie

neste mundo de nascer-ou-morrer.

 

E mesmo na pedra bendita,

barulhenta, de carros, buzinas,

há histórias de corpos esperados,

socorro nos mangues,

favelas, sorrisos banguelas,

de estranhos achados.

 

Um sopro bate na incerteza

de seguir a vida, 

- Que proeza !

sem qualquer motivo;

mas, um choro se escuta,

numa festa harmoniosa, pobre,

decente, matuta,

de mais um sonho vivo.

 

E por fim, um ensinamento vale,

de que a esperança

é bandeira sóbria

da garra e fé nordestina,

nem que falte água p´ra beber,

fruto p´ra comer,

reflete o sol:

da morte e vida,

vida e morte...

- Severina !?