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vic andrade

Chegada

Os dias caminham a passos tranquilos

indiferentes

A Rotina rosna

O café, que acalenta, sussurra

“Deixe de lado, está tudo bem

Por que não mais um gole?”

fiel cúmplice

O Sol entra sem bater, aconchega-se

aconchega-me

“Entre

tire os sapatos

açúcar ou adoçante?”

desejado penetra

O cigarro traz alguma emoção, pulmões se encarregam de distribuí-la

vilão adorado

 

Os dias continuam a caminhar

indiferentes

serenos

Rotina resmunga, aperta o passo

O café esfria, o Sol se envergonha

o cigarro apaga

“Ora, dona Rotina, como se atreve?”

O tempo nos é sagrado, admito

porém, todavia, contudo

ah

se bem que

talvez tenha razão

 

Os dias seguem seu ritmo

indiferentes

A Rotina ruge, apressa-se

exigente

“Vamos, o tempo nos é mais sagrado do que pensa”

A passos de Lenine,

me recuso, faço hora

Não valso por não saber

ou não ser possível valsar sozinho

O café amarga

frio

difícil de engolir

“Senhor Sol, queira se retirar”

cortinas fechadas

O cigarro me persegue, impregna-me com seu odor

dolorida tosse




Os dias passam

indiferentes

desanimados

como eu

 

Inércia marítima

Ressaca que puxa

álcool que atrai

seduz

afaga

“Por que não mais um gole?”

afoga

Arranha-me as úlceras

estapeia-me

retira-se

 

Ressaca que empurra

empurra para baixo

junto comigo

e minha inerte

condição humana

 

“Olá, dona Rotina

sinta-se em casa”