Os dias caminham a passos tranquilos
indiferentes
A Rotina rosna
O café, que acalenta, sussurra
“Deixe de lado, está tudo bem
Por que não mais um gole?”
fiel cúmplice
O Sol entra sem bater, aconchega-se
aconchega-me
“Entre
tire os sapatos
açúcar ou adoçante?”
desejado penetra
O cigarro traz alguma emoção, pulmões se encarregam de distribuí-la
vilão adorado
Os dias continuam a caminhar
indiferentes
serenos
Rotina resmunga, aperta o passo
O café esfria, o Sol se envergonha
o cigarro apaga
“Ora, dona Rotina, como se atreve?”
O tempo nos é sagrado, admito
porém, todavia, contudo
ah
se bem que
talvez tenha razão
Os dias seguem seu ritmo
indiferentes
A Rotina ruge, apressa-se
exigente
“Vamos, o tempo nos é mais sagrado do que pensa”
A passos de Lenine,
me recuso, faço hora
Não valso por não saber
ou não ser possível valsar sozinho
O café amarga
frio
difícil de engolir
“Senhor Sol, queira se retirar”
cortinas fechadas
O cigarro me persegue, impregna-me com seu odor
dolorida tosse
Os dias passam
indiferentes
desanimados
como eu
Inércia marítima
Ressaca que puxa
álcool que atrai
seduz
afaga
“Por que não mais um gole?”
afoga
Arranha-me as úlceras
estapeia-me
retira-se
Ressaca que empurra
empurra para baixo
junto comigo
e minha inerte
condição humana
“Olá, dona Rotina
sinta-se em casa”