O ESPELHO
Olho no espelho,
e o que eu vejo?
Quem é esse homem velho?
Já sem algum desejo.
Olho no espelho,
antes via meu pai forte e autoritário,
e depois o meu avô calmo e carinhoso,
Agora vejo um homem triste, solitário.
Olho no espelho,
mas ele ali, calado, nunca mente,
são meus olhos que se enganam
com que está na minha frente.
Olho no espelho,
já não me reconheço,
vejo só o passado grisalho
do que eu era e que jamais me esqueço.
Olho no espelho,
e fico sem piscar,
some o homem à minha frente,
somem as rugas e some o olhar.
Onde está a alegre vitalidade?
Nesse reflexo maltratado,
sobraram só sombras de um espantalho,
que agoniza frio e despedaçado.
E em vão eu pergunto,
ao espelho desse quarto escuro,
por que só vejo o passado?
Será que ainda verei o futuro?