Lú Galvão

Meu Pai, minha identidade.

Meu Pai, minha identidade.

 

“Acorda Maria Bonita

Acorda vai fazer o café...”

Com a canção de Volta Seca

Ao som das panelas na cozinha

Cheiro de café da  hora

Era acordada de manhãzinha.

 

Das características de Volta Seca

Herdou apenas a  simpatia

Porque de bravo só tinha a capa

A essência doce era  silenciada

Pela necessidade de mostrar

Quem era o homem da casa. 

 

Como um bom homem do campo

Logo cedo pegava a enxada

Do meu quarto só ouvia

“ pen... pen... pen...”

Era a ferramenta sendo preparada.

 

Chapéu

Calça e camisa

Bota sete léguas

E enxada no ombro

Era a farda de todo dia

 

Seja com  sol ou com  chuva

era assim que ele saia

o trabalho era em casa

desde muito pequena

eu saia e chegava

mas era ali que sempre o encontrava.

 

Tudo era muito simples e natural

Até chegar à escola

Com suas datas comemorativas,

Aqueles projetos mal planejados

Que muito pouco acrescentavam.

 

Que espaço mais cruel!

Sem respeito e empatia

A identidade de quem estava do outro lado

Pouca diferença fazia.

 

Eu não me reconhecia

Naquele contexto apresentado

Diziam na escola

que o pai era quem saia

A mãe ficava em casa

Cuidando da casa e família.

 

O modelo de pai proposto

Eu nunca entendia

Não era meu pai quem saia

Era minha mãe quem dirigia

E tudo na cidade resolvia.

 

A gravata listrada,

Lembrancinha orientada

Foi o fim da picada

Até a cor era indicada

Nada combinava

e logo eu entendi

que o MEU PAI

era muito mais

do que tudo aquilo ali.