Meu Pai, minha identidade.
“Acorda Maria Bonita
Acorda vai fazer o café...”
Com a canção de Volta Seca
Ao som das panelas na cozinha
Cheiro de café da hora
Era acordada de manhãzinha.
Das características de Volta Seca
Herdou apenas a simpatia
Porque de bravo só tinha a capa
A essência doce era silenciada
Pela necessidade de mostrar
Quem era o homem da casa.
Como um bom homem do campo
Logo cedo pegava a enxada
Do meu quarto só ouvia
“ pen... pen... pen...”
Era a ferramenta sendo preparada.
Chapéu
Calça e camisa
Bota sete léguas
E enxada no ombro
Era a farda de todo dia
Seja com sol ou com chuva
era assim que ele saia
o trabalho era em casa
desde muito pequena
eu saia e chegava
mas era ali que sempre o encontrava.
Tudo era muito simples e natural
Até chegar à escola
Com suas datas comemorativas,
Aqueles projetos mal planejados
Que muito pouco acrescentavam.
Que espaço mais cruel!
Sem respeito e empatia
A identidade de quem estava do outro lado
Pouca diferença fazia.
Eu não me reconhecia
Naquele contexto apresentado
Diziam na escola
que o pai era quem saia
A mãe ficava em casa
Cuidando da casa e família.
O modelo de pai proposto
Eu nunca entendia
Não era meu pai quem saia
Era minha mãe quem dirigia
E tudo na cidade resolvia.
A gravata listrada,
Lembrancinha orientada
Foi o fim da picada
Até a cor era indicada
Nada combinava
e logo eu entendi
que o MEU PAI
era muito mais
do que tudo aquilo ali.