Na desabitada costa de La Perla,
fitando a amplidão de horizonte intocável,
com passos lentos caminha a poetisa...
Seu pequeno corpo busca o descanso,
seus desajeitados passos marcam a areia fina e macia,
no aveludado caminho, recorda amores que não viveu,
viagens de uma vida não vivida, sucessiva caminhada...
Em seu derradeiro olhar, assiste a cores,
recorda seu breve destino, idealiza cada cena, visões trágicas!
Busca o aconchego das águas,
encontra nas profundezas do mar a esperada paz,
agora adentra o mar com passos cravados e
o coração cheio de incertezas,
busca espumas, sangra os olhos, busca o sal!
Sua cama agora é úmida e fria, no remanso das águas,
entre devaneios e ouvidos selados,
concebe notas de antigas árias, cantigas dos anjos.
Calmamente adormece!
No entorpecido sono, no repouso merecido,
relembra alegres distrações de menina...
Corpo padece, coração que cessa, triste desfecho...
Sua despedida foi como suas palavras,
vestida de encantamento, triste epílogo...
Sentiu a única saudade possível,
sua face marcada por dores e amores
não revelou seus mais profundos segredos,
não encontrou respostas.
A poetisa de olhos negros não soube morrer,
mas a morte a abraçou, as águas a acolheram
e os seres marinhos a ampararam.
A noite chorando
encheu de orvalhos sua vegetação litorânea.
A Lua, assistindo à triste partida,
se escondeu atrás do breve nevoeiro.
Uma homenagem à poeta Alfonsina Storni (1892-1938)