Este mar que ora te traga é a vida
A água que te cobre por completo
Te carrega, te salga, então te ressalga
te afoga e te arrasta pra lá e pra cá
Nessa eterna impermanência de ser
Teus pés que ora buscam se ancorar
no chão que por si sempre desaparece
Porquanto os dias de pronto o erodem
A roda da vida se põe sempre a girar
Amiúde, parece passar muito rápido
atarantando o fluxo e refluxo do mar
Que não se assossega ou arrefece
É inexata a fúria de cada uma das ondas
Quando insurge a rebeldia dos ventos
Quando impetuosa surge a tempestade
cada rajada lhe impõe tantas angústias
ao largo, a vida a girar num redemoinho
nas águas revoltas sob o mau tempo
enquanto o mar grita e resignado expia
o medo inclemente a te arrasta a cada hora
ante a incerteza intransigente de cada dia