Mas, se um dia me for necessário
Planto a muda de ipê na campina
Branco, roxo, amarelo ou rosa
Me curvo à ele, em verso e prosa
Lhe rendo tributo toando na rima
Assim o lenho, estando bem alto
Em toda a glória, ornará a colina
Copado, imponente, em floração
Dará as flores, pondo folhas no chão
A dura estação, sem dó, se aproxima
Exuberante no seu colorido
Adora o calor, e ama o sol acima
Vindo o inverno, cruel, rigoroso
Não mais parece o tronco garboso
Despe da flor, e sua folha declina
É a lembrança, do nosso ditoso verão
Que uma vez mais, no peito germina
Em tua sombra, frondoso arvoredo,
Guardei para sempre, o nosso segredo
Que o tempo veloz, atroz, não dizima
Ela e eu, em nossas juras de amor
Riscamos seu tronco, sangrou a resina
Traços fortes, e bem contornados
Marcamos pra sempre o nosso passado
Num coração, que o tempo calcina
Das tuas flores, me marca o destino
Nem de longe, minha amada imagina
Se da colina vejo eu o mundo belo
É que no inverno, floresces de amarelo
Compreendo que assim tu me reanima
Mas, se um dia me for necessário
Replantar o amigo desta minha sina
Assim farei, confiante na espera
E minha amada voltará na primavera
Este amor, como o ipê, nunca termina.