insatisfeito
A incerteza na brancura dos olhos, as belezas naquele castanho fulguroso, a dilatação assustadoramente negra frente aos horrores atrozes dos olhares índicos harmoniosos.
Arrepiava-me ao lembrar-me dos meus próprios olhares; concepções profundamente belas e terríveis.
Talvez reinasse na beleza a injustiça mais violenta, aquela injustiça que bebe das lágrimas do espelho sujo, aquela injustiça que nos enche o peito por coisa nenhuma, aquela injustiça que faz franzir o cenho por também coisa nenhuma. Transborda-nos de amores cuspidos por almas incompletas e nós bebemo-nos de bom grado sem nem ao menos conseguir sentir o sabor.
A eternidade da incompletude me perturba incansavelmente, afoga-me com todas aquelas subtilezas das sensações que eu não sei sequer mais dizer se são prazerosas ou desprazerosas; apenas bebo-as, deleito-me nelas, e sempre termino insatisfeito. Gostaria de poder beber de mim próprio, talvez soubesse assim ao menos oque bebo, talvez preenchesse esse copo meio vazio, talvez dormisse enfim satisfeito.