edson ovidio

DESLEMBRAR

De todas as coisas perfeitas

aperfeiçoei-me em não ser

Entre a todas as incertezas

minha razão, a mais incerta

Pelo caminho por onde sigo

persiste a paisagem deserta

nada exceto a plena vastidão

Piso o vazio e semeio no nada

no insólito deserto da solidão

Sementes caem e se esquecem

e perecem no rachado no chão

O tempo me tange como gado

e tudo parece ter sido em vão

 

Toda a calma dos meus sonhos

perderam-se nas muitas noites

mal dormidas envoltas pelo breu

 O vozerio surdo dos pesadelos

que soam sempre alto e mais alto

Medra-me perceber meus medos

que se acercam e a mim me negam

devolver o dia

 

De todas as minhas lembranças

aperfeiçoei-me em esquecê-las

fatos, sabores, tatos, retratos rotos

cenas descoloridas e despenduradas

das paredes cinzas da memória

deslembrados fragmentos

de vias por onde passei

de fatos que ja nem sei

... do nada