De todas as coisas perfeitas
aperfeiçoei-me em não ser
Entre a todas as incertezas
minha razão, a mais incerta
Pelo caminho por onde sigo
persiste a paisagem deserta
nada exceto a plena vastidão
Piso o vazio e semeio no nada
no insólito deserto da solidão
Sementes caem e se esquecem
e perecem no rachado no chão
O tempo me tange como gado
e tudo parece ter sido em vão
Toda a calma dos meus sonhos
perderam-se nas muitas noites
mal dormidas envoltas pelo breu
O vozerio surdo dos pesadelos
que soam sempre alto e mais alto
Medra-me perceber meus medos
que se acercam e a mim me negam
devolver o dia
De todas as minhas lembranças
aperfeiçoei-me em esquecê-las
fatos, sabores, tatos, retratos rotos
cenas descoloridas e despenduradas
das paredes cinzas da memória
deslembrados fragmentos
de vias por onde passei
de fatos que ja nem sei
... do nada