Claudio Reis

VENTO SOPRANDO A VIDA

Ainda me ponho a pensar: sobre os ventos que sopraram a favor
Nas tardes ensolaradas das praças da primeira cidade
Até mesmo naqueles que ficaram na rua da boa infância
O rosto refletido no espelho convidava a juventude a desafiar o tempo
As manhãs tinham um sol p\'ra cada um, sim, um sol p\'ra cada um!

Pelas calçadas os pés levavam a vontade de conhecer d\'um audaz aprendiz
A pele tinha tonicidade de casca verde guardando a polpa à ser madurada
As novidades traziam ânimo p\'ra ver a lua sobre a neblina da madrugada fria
O subir na colina se molhando com a chuva p\'ra ir buscar a flor

Então nestes raros pensares reflito o fato e constato
Sabendo compreender a natureza da vida, mesmo assim me faço a pergunta:
Que vento é este que soprou a favor batendo em minhas costas levando-me ao futuro de prazeres?
Que vento vem a ser este que me empurra para o precipicio distanciando-me do começo e aproximando-me do fim?

Sim! Acreditava que ao entrar na velhice,  deixaria a juventude, mas nao!
Entro nela completo como um eqüino pronto a ser montado e com cela p\'ra levar bagagens
Juvenil, amadurecido e envelhecendo simultaneamente, prossigo surpreso, mas ainda aprendendo a viver
Certo e sabido é, que o mesmo vento que soprou p\'ra viver a vida, também sopra a vida em rota de colisão com a morte.

Cláudio Reis