Elfrans Silva

O MOTORISTA

O MOTORISTA 

No ponto abrupto da serra
Vai vencendo, o \"bruto\", outra guerra
E ele, de braço firme, na boléia
Lentamente, paciente na subida
Quando aplaina e começa a descida
Troca marcha, uma à uma, desembréa 

 

Corta o vento, neblina e cerração 
Dá luz alta, pisca-pisca, e atenção 
Se na frente, indolente condutor,
Persiste, dirigir em \"passo\" lento
É melhor se achegar no acostamento 
Ou terá que se amoitar no colonhão 

 

Ouve rádio na saudosa madrugada 
E suspira ao lembrar da sua amada
E da prole, à quem deseja outra sina 
Todo gasto com pedágios, pelo asfalto
Desanima com o frete tão barato
E o restante é do posto de gasolina. 

 

Solidão por seus pais, ou por amigos
Carga seca, a granel ou de perigo 
Alimentos, madeira e construção 
Cargas vivas, frágeis ou abertas
Grande porte, perecível, descoberta
Automotiva, congelada ou em grãos 

 

Faz a \"bóia\" na cozinha do possante
Chuva ou sol, segue ele viajante
O seu leito é o sofá do caminhão 
No painel um retrato da família, 
Texto ou frases, medita na homilia 
São Cristóvão à quem reza a oração 
            

O carro é a casa, o lar do motorista 
Coletivo, de passeio ou taxista
E a casa, parece ser o seu rincão 
Acelera e freia, pisa na embreagem
Antes que siga pra qualquer viagem
Peça à Deus pra guiar seu coração