O MOTORISTA
No ponto abrupto da serra
Vai vencendo, o \"bruto\", outra guerra
E ele, de braço firme, na boléia
Lentamente, paciente na subida
Quando aplaina e começa a descida
Troca marcha, uma à uma, desembréa
Corta o vento, neblina e cerração
Dá luz alta, pisca-pisca, e atenção
Se na frente, indolente condutor,
Persiste, dirigir em \"passo\" lento
É melhor se achegar no acostamento
Ou terá que se amoitar no colonhão
Ouve rádio na saudosa madrugada
E suspira ao lembrar da sua amada
E da prole, à quem deseja outra sina
Todo gasto com pedágios, pelo asfalto
Desanima com o frete tão barato
E o restante é do posto de gasolina.
Solidão por seus pais, ou por amigos
Carga seca, a granel ou de perigo
Alimentos, madeira e construção
Cargas vivas, frágeis ou abertas
Grande porte, perecível, descoberta
Automotiva, congelada ou em grãos
Faz a \"bóia\" na cozinha do possante
Chuva ou sol, segue ele viajante
O seu leito é o sofá do caminhão
No painel um retrato da família,
Texto ou frases, medita na homilia
São Cristóvão à quem reza a oração
O carro é a casa, o lar do motorista
Coletivo, de passeio ou taxista
E a casa, parece ser o seu rincão
Acelera e freia, pisa na embreagem
Antes que siga pra qualquer viagem
Peça à Deus pra guiar seu coração