edson ovidio
CONTRAPONTOS
Quando a luz cinzela o escuro
em dia a noite enfim se desvela
aurora de fractais pendores
tanto mais cores a cada hora
tique-taques, agora e agora
a erva que no muro se encastela
os detalhes das flores e quintais
o fruto maduro, a flor mais bela
entalhes das paredes e beirais
quando a gente por fim se senta
esquece da vida olhando marés
a água que flui e então reflui
molhando abusada os nossos pés
a macia areia sob nós então rui
a acaricia leve se rebela
a calmaria se desfaz, se dilui
agita-se o mar de procela
o óxido se apodera do tempo
e o torna em passado
o agora se perde de vez
o paradoxo empodera o tempo
passando a limpo o passado
então é o ontem outra vez
quando tudo são reflexos
domínios do mundo interno
onde há tanto mais de céu
quanto há de muito inferno
tabus são ocultos com véu
inexatos, confusos, complexos
ora mais isso ou mais aquilo
sem razões, rimas sem nexos
sob ferrugem, sob zinabre
redivivos e bem-aventurados
noutras um sabre bem afiado