Uma vez, deixando de sonhar, acordei.
Desperto na ilusiva vigília, segui uma rotina palpável, com emoções reclusas e pessoas que eu não conseguia enxergar a essência.
O Sol era apenas o sol, pragmático e pontual.
Incrivelmente, eu não conseguia acreditar que ele era alcançável e que poderia tocá-lo...
Na vigília deste mundo tudo fica estreito e o pensamento não vence a distância; para estar em algum lugar é preciso ir, e pode-se ir apenas em poucos lugares.
Tem-se correntes invisíveis como uma força que nos prende ao chão.
Aliás, tudo que se faz é no chão...
Desperto de sonho, nessa vigília, não se pode amar livremente e não se sabe livrar amadamente, e o que me causa surpresa é não se poder voar por aí!
Nem parece realidade...
Nesse estado supostamente desperto, o pensamento não é como o perfume, e a fantasia constrange.
Essa ilusória realidade é um desalento do sonho...
Uma fuga momentânea das verdades imponderáveis...
Uma busca nas limitações por amplidão sem limites...
E na ignorância a semente da compreensão plena.
Um paradoxo paradoxalmente sem contradições...
Um laboratório da crença na contenção do mero possível, para se colher a utopia do espírito impossível.
Talvez o despertar que entorpece os sentidos do discernimento, da visão e da crença, seja apenas um hiato da infinita possibilidade de existir, para o lapidar do ser criativo em expansão...
Talvez essa realidade seja apenas um estágio para se sonhar mais plenamente...
E a plenitude divina do sonho é amar!
O sonho é o alento desse devaneio de realidade, que se justifica enquanto reconhecemos as fronteiras restritivas da ilusão...
Uma vez, deixando o despertar, sonhei...