Juliana Kisler

Esquizofrenia poética

Xiuuuu!

As vozes estão sussurrando

as que assolam a minha mente e não se calam

estão falando todas juntas

murmurando ordens insanas

como maldição e louvor as carrego

por vezes como mensageiro divino que encorajam a poesia

por outras como o anjo caído que exterminam equilíbrio

gritam pela liberdade durante a fúria de seus ventos

vendaval inconstante que assopram as palavras

assim perco-me nas horas

ouvindo a melodia que vem do asfalto quente

bronzeando-se sob o sol de verão

criando belíssimas e trágicas histórias ao ver os singelos sorrisos

dos casais que cruzam meu caminho na trama das ruas

mentalizando minhas ausentes crônicas narrativas

de fascinantes amores criados

edificando uma represa que retém os sentimentos reais

e pouco a pouco abrem-se as comportas

que deságuam em seu rio

mas vertem-se na beleza da caligrafia

colocando a prova minha sanidade

trato-me desta santa esquizofrenia revelada

ouvindo as minhas vozes em um surto arquitetado

alimentando propositalmente as alucinações

para extasiar-me entre a realidade e o hipotético

tornando os versos de excêntrica demência eternos

contemplando como expectadora a briga dos meus “eus”

que esse excesso em tempo nenhum seja controlado

para que meu empático coração

não desperdice mais as suas preciosas batidas

que mergulhe de vez

e nunca volte

a respirar em juízo.

Por Juliana Kisler

 

Instagram: @julianakislerpoetisa