Jessé Ojuara

Ressaca de democracia

 

Hoje acordei com uma tremenda ressaca. Ressaca de democracia. Uma excelente ressaca.

Ontem a manifestação contra o genocida, começou tímida. Com frio culpei Pedro. Meu primeiro grito e xingamento dirigi ao porteiro do céu.

Confiante segui a corajosa galera, numa tarde muito fria em Salvador.

Aos poucos vi brotar gente de todos os cantos, que num canto, a uma só voz, despejava toda sua revolta e indignação contra esse desgoverno fascista, genocida, negacionista e contra tudo que pensávamos que tinha sido enterrado nos porões dos tristes anos de chumbo, com a morte e sacrifício de tantos companheiros e companheiras.

As cores se misturavam, numa incrível aquarela. Mas prevalecia o preto, pelo luto de quase 600.000 mil Brasileiras e Brasileiros. O vermelho sangue também chamava atenção. Não vi nosso verde e amarelo. Cores tão lindas e prestigiadas em outras manifestações populares e que hoje foram maculadas pela manipulação e mentira.

Jovens, velhos, crianças, homens, mulheres, héteros, gays, brancos, pretos, cadeirantes, Brasileiros e Brasileiras. Todos juntos e misturados, com objetivos patrióticos: resgatar à liberdade, a luz, o emprego, a economia, a segurança e principalmente a vida. Afugentar o obscurantismo, a dor, a morte, o atraso e tudo mais que esse vil desgoverno representa.

Foi lindo ver duas torcidas ferozmente rivais, meu Bahia e o Vitória, caminhando e cantando, lado a lado, irmanados por uma  causa maior. Um milagre da democracia.

Por onde passava, a multidão era saudada, aclamada pelas pessoas, que das janelas dos seus apartamentos repetiam as palavras de ordem, que ecoava nos diversos carros de som. 

FORA GENOCIDA.

QUEREMOS VACINA NO BRAÇO E COMIDA NO PRATO.

FORA BOLSONARO

Era um justo reconhecimento, a todos que, mesmo durante uma terrível pandemia, arriscavam suas vidas,  caminhando juntos, para proteger nossa infante e agredida democracia.

Na chegada ao farol, já no ocaso do dia, o sol retardou sua despedida e com consentimento da lua, nos aqueceu com seus derradeiros raios. Nessa tarde fria, mas ao mesmo tempo tão quente, calorosa e histórica.

Discursos emocionados e manifestações populares e espontâneas de repúdio contra tudo isso que está aí: corrupção, entreguismo, supressão de direitos, genocídio, preconceito, obscurantismo, ignorância, economia estagnada, destruição criminosa de nossas florestas e muitas, muitas mentiras e manipulações..

Não houve ataques,  reações ou provocações da minoria que, doente pela estranha dissonância cognitiva, que nem Freud explica, ainda insiste em defender o indefensável.

Um dia único, histórico, inigualável. Só não foi melhor ou perfeito, pela ausência do meu amor.

Mandamos um importante recado, das ruas para os oportunistas e vendidos políticos, que são cúmplices do genocida.

A luta continua e sei que alguns companheiros e companheiras ou eu mesmo, podemos ter nos exposto ao terrível vírus da Covid. Mas na luta por um ideal e no combate ao verme genocida e desprezível, alguns sacrifícios precisam ser feitos.

A luta continua.