Recordo-me como se fosse hoje, o dia em que você partiu, tudo parecia caminhar tão bem, acreditava que aquele seria o dia mais importante da minha vida, a realização do sonho de toda mulher, a maternidade, o que na verdade acabou sendo o dia mais triste e infeliz de todo meu viver. A dor ainda existe e é humanamente impossível esquecer.
Meu filho se foi ainda no meu ventre, aos nove meses de gestação, uma gestação tão conturbada, cheia de conflitos externos, mas internamente eu estava radiante, feliz e grata, pela benção recebida. Mesmo com o mundo querendo desabar sobre mim, curti o meu filho até seu último suspiro, até o instante em que seu coração parou e dentro de mim só restaram lágrimas de dor e aflição.
Quando os médicos me disseram: “fizemos tudo que foi possível, mas infelizmente, Deus o levou”, essas foram as palavras mais doídas que já ouvi em minha vida, doeu tanto que senti o chão se abrir, me transportando para um estado de total desespero e me pus a perguntar: por que Deus fizera tudo aquilo comigo? Por que sentir a alegria de ter e perder ao mesmo tempo? Naquele instante nada me consolava, não existiram palavras, nem mensagens que pudessem acalentar a dor que eu estava a sentir. Meus dias começaram a ficar nublados, sem cor, sem vida. Eu havia perdido a razão de viver, naquele terrível dia 05 de março, meu coração foi sepultado junto com meu filho.
Chorei como jamais havia chorado em minha vida, foram longos dias de muitas lágrimas, lágrimas essas, que representavam a minha dor. Perder um filho é como morrer aos poucos, é como um pedaço de mim que ficará vazio para sempre. Ainda que o tempo passe, as marcas deixadas pelo meu filhote serão eternas. Jamais esquecerei do dia em que fui escolhida por Deus para ser consagrada sua mãe.
A dor é imensa, mas a fé em Deus é maior e é exatamente essa fé que tem me mantido de pé e me feito acreditar que tudo tem um propósito. Hoje eu sei que não entendo os “por quês” de tudo isso, mas um dia a vida se encarregará de me mostrar, só então compreenderei que Deus é amor, mas ele também permite a dor.
Clécia Lopes!!